Autor falou à Caros Amigos sobre a reedição e a herança trabalhista
Por Rafael Zanvettor
Caros Amigos
“A Era Vargas”, trilogia do jornalista José Augusto Ribeiro, foi relançada em um nova e extendida edição, em homenagem aos 60 anos de Getúlio Vargas. A nova edição traz mudanças significativas em ralação à primeira, de 2001, como uma descrição minuciosa da Revolução de 1930 que não contava na edição anterior. O relançamento foi na Câmara dos Deputados, em maio, em Brasília, como parte da programação do evento “60 Anos Sem Getúlio Vargas”.
O livro conta a trajetória política de Getúlio, e, mais do que apenas seu percurso pessoal, a trajetória do próprio trabalhismo, a partir de suas raízes no republicanismo gaúcho.
Segundo o autor do livro, José Augusto Ribeiro, a nova edição foi motivada a pedido de estudantes, que sempre o questionavam em relação aos acontecimentos anteriores à ascensão de Getúlio: “Aproveitei a pesquisa que já tinha feito e fiz um primeiro volume sobre a revolução de 30, no segundo volume juntei o primeiro e segundo governo, e fiz um último volume sobre a crise de 1954″. O jornalista já trabalhou nos principais veículos de comunicação do País e é autor, entre outros, dos livros “De Tiradentes a Tancredo, história das Constituições do Brasil” (1987) e “Nossos Direitos na Nova Constituição” (1988). Ainda este ano, lançará, pela Record, uma biografia sobre Tancredo Neves, de quem foi assessor de imprensa, função que também exerceu na campanha de Leonel Brizola à Presidência da República, em 1994.
Novidades
O primeiro volume conta os antecedentes da revolução de 30, que, segundo o autor, foi muito inspirada nos eventos de 1882, sobretudo na criação do Partido Republicano no Rio Grande do Sul: “Era um partido abolicionista, que fez uma campanha muito grande pela alforria dos escravos sem compensação aos fazendeiros (procedimento comum na época). No Rio Grande do Sul eles conseguiram libertar 60 mil escravos, sem pagamento de indenização; quando chegou a abolição, apenas 6 mil foram libertados, ou seja, eles já haviam libertado 90% dos escravos. Getúlio considera que a Revolução de 30 foi necessária para aprofundar as leis trabalhistas, e por isso considerava que a Lei Áurea havia sido a primeira lei trabalhista”.
O último volume, também acrescentado à pesquisa anterior, apresenta novas informações ao leitor, principalmente em relação ao ano final da vida de Getúlio, até seu suicídio: “Com as modificações acredito ter trazido algumas novas informações, como a de que no auge da crise o presidente sofria muitos ataques da imprensa brasileira, pela imprensa de Assis Chateaubriand. O general Mozart Dornelles, subchefe do Gabinete Militar da Presidência da República, foi perguntar para Chateaubriand o motivo dessa campanha, e ele disse: ‘Eu adoro o presidente, tenho a maior admiração por ele, se ele quiser tiro Lacerda da televisão e coloco qualquer um para defender o governo, basta ele desistir da Petrobras’”.
Herança
Para o jornalista, a herança do presidente Vargas foi compartilhada por dois ministros dele, Tancredo Neves, da Justiça, e João Goulart, ministro do Trabalho. “Os dois trabalharam juntos no governo de Vargas e voltaram a trabalhar juntos quando Jânio Quadros renunciou e João Goulart era vice”. Na época, sob a pressão de forte instabilidade política e constante conspiração da ala golpista dos militares, foi aprovado o sistema parlamentarista e Tancredo foi indicado como primeiro-ministro. Para o autor, se o gabinete de Tancredo como primeiro-ministro resistisse, talvez João Goulart não tivesse sofrido o golpe dos militares.
Ele também afirmou que o último que levou o legado trabalhista à frente foi Leonel Brizola. “Quando voltou a democracia foi convocada a constituinte e os dois primeiros legatários da herança de Getúlio já estavam mortos, e o terceiro, Leonel Brizola, já tinha organizado o antigo partido trabalhista, mas o governo de Figueiredo, influenciado pela linha dura, não queria saber de trabalhismo e nacionalismo, fez uma manobra através do procurador e negou a legenda PTB. Então, Brizola teve que transformar o PTB no PDT”, afirmou.