A pandemia do novo Coronavírus exigiu mudanças repentinas nas unidades escolares do mundo inteiro. Em Cascavel, na Rede Pública Municipal de Ensino, as aulas presenciais foram suspensas, dando espaço ao início das atividades remotas, onde as famílias ficam responsáveis por retirar quinzenalmente uma série de atividades, elaboradas pelos professores e professores de educação infantil e, auxiliar os alunos na execução destas tarefas. Os profissionais do magistério, por sua vez, estão presentes na escola, para preparar, receber e corrigir estas atividades, além de trabalhar em casa. A questão é como está sendo este novo modelo de trabalho para profissionais do magistério.
Para responder a esta pergunta, o Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), em parceria com o Siprovel, realizou uma pesquisa, que tem como objetivo ouvir a categoria acerca das novas condições de trabalho, frente ao trabalho remoto. Esta pesquisa foi realizada entre os dias 15 de setembro e 4 de outubro de 2020 e obteve um total de 818 respostas, e foi aplicada por hiperlink através do software SurveyMonkey. Após uma limpa no banco de dados, retirando as pessoas que responderam só o primeiro bloco (que buscava encontrar um perfil dos respondentes) restou um total de 693 respostas. “A pesquisa de opinião “O trabalho remoto dos professores da Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel” teve por finalidade compreender a situação da categoria em relação ao trabalho remoto. Para isto foi criado um questionário abordando primeiramente as características individuais de cada respondente e depois questões sobre suas condições de trabalho e sua opinião acerca desta questão”, detalha o economista e pesquisador do Ibeps, Eric Gil Dantas.
De acordo com a pesquisa, 17% dos entrevistados afirmaram pertencer ao grupo de risco da Covid-19, sendo que 2% possuem 60 anos ou mais. A maioria (93%) afirma dividir o domicílio, sendo que 50% mora com 3 ou mais pessoas e 58% possuem filhos em idade escolar (que agora estão em casa por conta da pandemia). Consequência ou não, apenas 14% dos entrevistados afirmam trabalhar em um ambiente silencioso. Além disso, os respondentes são muitas vezes interrompidos em seu trabalho remoto, sendo que 41% disseram ser interrompidos de cinco a mais vezes por semana por parte de algum morador da residência, 34% disseram ser interrompido até quatro vezes e apenas 24% disseram não ser nunca interrompido. Isso sem contar os 31% dos entrevistados que passaram a se responsabilizar por uma pessoa que até então não era de sua alçada, tendo em vista o contexto da pandemia.
Além do barulho e das interrupções, a estrutura nem sempre é adequada para o trabalho. Apenas 6% afirmou trabalhar em um escritório. O local mais utilizado para o trabalho remoto é a sala (39%), seguido da cozinha (22%) e quarto individual (19%). “Elencamos seis itens de trabalho e perguntamos se os respondentes os adquiriram com recursos próprios para garantir o seu trabalho remoto. O item que mais pessoas tiveram que adquirir foi Internet (55%), seguido por computador (49%), celular (42%), cadeira (37%), impressora (37%) e mesa (36%)”, detalha Dantas. Apenas 33% dos entrevistados afirmam ter recebido ao menos um instrumento de trabalho por parte da Prefeitura e apenas 22% diz que recebeu algum tipo de treinamento para o trabalho remoto. A pesquisa pediu que os respondentes avaliassem seus itens de trabalho. As piores avaliações são em relação à cadeira (27% de ruim), mesa (19% de ruim), mouse (18%), iluminação (14%), computador (14%), internet (11%), circulação de ar (10%), teclado (10%) e monitor (8%). Segundo os respondentes, 63% do total compartilham seus instrumentos tecnológicos de trabalho (como o computador), o que é uma questão importante para pensar na qualidade do trabalho remoto.
Esta precariedade de estrutura para o desempenho do trabalho – cuja carga, de acordo com 87% dos entrevistados, aumentou durante a pandemia – tem resultado em problemas de saúde em meio à categoria. A saúde mental de 83% dos entrevistados foi afetada, entre aumento da ansiedade, dores de cabeça, desmotivação, insônia, maior tristeza do que o normal, perda da noção de tempo, etc. “Uma outra questão que chama a atenção é a grande quantidade de trabalhadores que responderam ter sentido algo tipo de problema físico decorrente das suas instalações de trabalho (80%)”, pontua o economista.
Apesar disso, os entrevistados (87%) compreendem que o trabalho remoto, diante da pandemia, é necessário e são contra (90%) um possível retorno às atividades presenciais ainda este ano, mesmo sem a vacina. Para a presidente do Siprovel, Josiane Maria Vendrame, esta pesquisa foi uma importante ferramenta para compreender esse novo cenário na Rede Pública Municipal de Ensino. “Ao compreender como esta nova realidade afeta de forma particular cada um dos professores e professores de Educação Infantil da rede, conseguimos balizar as ações e posicionamentos do sindicato. A consulta evidenciou que o ensino remoto é a opção mais segura e viável enquanto durar a pandemia, mas também deixou claro que o município precisa trabalhar pela garantia de melhores condições de trabalho à categoria. Estamos certos de que o resultado desta pesquisa será de grande utilidade para que o executivo saiba exatamente onde precisa agir”, destacou.
Acesse o relatório de pesquisa na íntegra clicando aqui: https://siprovel.com.br/wp-content/uploads/2020/11/Relatorio-pesquisa-de-opiniao-trabalho-remoto-Ibeps-Siprovel.pdf