O Siprovel vem a público manifestar-se sobre a declaração do prefeito Leonaldo Paranhos, nesta terça-feira (31), a respeito da contratação de uma empresa para apurar o motivo de cerca de 22% dos trabalhadores da Rede Municipal de Ensino de Cascavel estarem afastados por motivo de doença. Este sindicato já alertou a sociedade cascavelense, bem como o executivo municipal, diversas vezes sobre o resultado de uma política de desmonte das condições de trabalho e do poder de compra dos trabalhadores do executivo municipal. A pandemia da covid-19 sobrecarregou os trabalhadores, que tiveram sua jornada de trabalho intensificada diante das demandas do ensino remoto, híbrido e presencial. Durante o trabalho remoto, o município não se ocupou de fornecer estrutura aos trabalhadores, que improvisaram uma estrutura de trabalho em suas casas, muitas vezes sem espaço ou equipamentos adequados.
Em novembro de 2020 o Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), em parceria com o Siprovel, realizou uma pesquisa, com o objetivo de ouvir a categoria acerca das condições de trabalho, frente ao trabalho remoto. A pesquisa indicou que esta precariedade de estrutura para o desempenho do trabalho – cuja carga, de acordo com 87% dos entrevistados, aumentou durante a pandemia – teve resultado em problemas de saúde em meio à categoria. A saúde mental de 83% dos entrevistados foi afetada, entre aumento da ansiedade, dores de cabeça, desmotivação, insônia, maior tristeza do que o normal, perda da noção de tempo, etc. Além disso, grande quantidade de trabalhadores respondeu ter sentido algum tipo de problema físico decorrente das suas instalações de trabalho (80%).
Já a volta às atividades presenciais, em meio a uma das pandemias mais mortais da história, se deu sem a garantia de EPIs adequados – sem máscaras PFF e com previsão de face shield compartilhado. Profissionais valorosas da rede perderam suas vidas para a doença, diante do negacionismo do estado que insiste em desafiar o que indica a ciência, colocando trabalhadores, alunos e seus familiares sob o risco da covid-19. Além disso, o município retornou as aulas presenciais sem reestruturar os quadros funcionais, uma recomendação da 8ª Promotoria, consolidando mais de dois anos sem reposição de aposentados e exonerados. O município também não planejou como iria repor os grupos de risco e nem as gestantes e a ainda, inauguraram e iniciaram atendimento em novas unidades escolares, remanejando profissionais de outras unidades. Vale ressaltar que embora a Lei Complementar 173/2020 não permita novas contratações, ela prevê reposições. Mesmo assim, o município não o fez e agora opta por culpabilizar os profissionais da educação.
Somado à difícil condição de trabalho, professores, professores de Educação Infantil, e demais trabalhadores da educação, ao chegar em casa, precisam lidar com a realidade de um salário congelado em um contexto em que as coisas ficam cada vez mais cara, tornando a subsistência das família a cada dia mais desafiadora. Este contexto compromete ainda mais a nossa saúde mental.
Lamentamos que o executivo prefira investir em uma empresa para apurar o número de atestados apresentados, do que investir em uma melhor condição de trabalho para os profissionais da educação. Paranhos afirma que os atestados impedem Cascavel “de ter um serviço como aquele que nós queremos”. Discordamos! O que impede Cascavel “de ter um serviço como aquele que nós queremos” é a desvalorização dos professores, professores de Educação Infantil e dos demais trabalhadores da Educação.